"OLHAI AS PIPAS NO CÉU"

Quase nem pude acreditar!Lá estava ela, gingando no céu, debaixo de um sol a pino. Será mesmo ela? Já faz tanto tempo que a perdi...

Não podendo conter-me em minha curiosidade, mesmo já estando pronto pra ir pra escola, com minha mochila nas costas, sai em disparada para o lugar onde imaginei estar quem a empinava . Muitas outras povoavam o céu naquele dia. Mas aquela era inconfundível. Eu a fizera com o meu primo Valter. O que a tornava impar, era o seu formato, suas cores vermelho e branco, a rabiola imensa e colorida.

Mal podia prever minha reação ao encontrar quem a apanhou naquele lindo dia que eu a inaugurava , quando, de repente um urubu desavisado emaranhou-se com a minha linha quebrando, junto com ela, a alegria de ver voando aquela obra de arte que levou dois dias para ser feita ( isso é uma eternidade em se tratando de pipas).

(As pipas são assim, nós as fazemos e depois , somos iludidos pela idéia de que somos donos delas. Elas, mesmo que nunca nos digam isso, sabem que seu dono é o vento. Basta ele soprar um sussurro no seu ouvido, e elas se atiram em seus braços. Não querem nem saber se a linha está na mão de quem a fez ou de um usurpador, lhes basta que estejam nos braços do vento. Que tolos que somos, quando achamos que somos donos de alguma coisa nesta vida... Aprendi isso com as pipas. Certamente, não estarei blasfemando ao dizer que, se Jesus fosse do meu tempo, certamente., como criança, se sentiria feliz empinando pipas. Depois, quando já fosse grande, diria aos seus discípulos: “Olhai para as pipas nos céus..” Sim, o Mestre faria aplicações fantásticas, utilizando-as.)

No céu, todas as outras planavam tranqüilas, mas ela? Ela não, ela gingava como quem queria chamar a atenção de todos. Especialmente a minha. Não foi difícil identificar quem a estava empinando, pois só aquele menino, fazia joguetes com a mão para vê-la gingando no céu.
Identificar o caçador da minha pipa trouxe um frio na minha espinha. Pinduca. Este nome era famoso. Um menino peralta que beirava a marginalidade. Quem via o seu tamanho, nem imaginava que naquele espaço coubesse tanta maldade. Se, em meio a uma daquelas briga naturais à idade, o outro corria, este atirava uma pedra que invariavelmente era certeira na cabeça. Algumas vezes, eu, ou meus irmãos, chegamos em casa com o sangue descendo pelo rosto.

Se a brincadeira era jogar pião, Pinduca era aquele que conseguia dar um fincão certeiro que, não poucas vezes, abria o pião do outro ao meio. Exibia-se, desafiando qualquer um, enquanto jogava seu pião ao ar e o aparava com a mão, levando-o depois para a unha. Em bolas de gude, suas tecadas certeiras fazia-o ganhar às centenas as gudes dos outros.

Tive um insight fantástico no momento. Lembrei que levava no meu bolso dinheiro pra merenda e, sem hesitar, cheguei perto de Pinduca e perguntei: Quer me vender esta pipa? Te pago x. Ele retrucou, querendo mais e eu insisti, afirmando que era tudo o que eu tinha. Pra minha alegria, ele me entregou o carretel e saiu contente com meu trocado.

Olhei pra ele enquanto se distanciava e, naquela minha mente de criança, mesmo sem um pensamento tão elaborado, pensei comigo algo do tipo: Que bobo, ele nem imagina o quanto ela vale pra mim, e do que eu seria capaz para tê-la de volta!

Ligeiramente enrolei aquela linha, trazendo-a pra junto de mim. Voltei pra casa, coloquei-a debaixo da cama e fui pra minha aula.

Nem precisa dizer onde estava meu pensamento durante toda aquela tarde. rsrsrsrs

Lembranças

Passeando pelas “praias” dos que empinarampipas comigo esta semana, (aliás, esta será minha forma de registrar minha gratidão a tantos quantos me visitaram: Vou lá , e empinopipas com eles.Se o céu lá tiver pra pipas rsrsrs.) não tive nenhuma dúvida. O espírito da lembrança baixou na blogsfera.E, não deu noutra, veio sobre mim em avalanche. Fui levado aos meus rabiscos, até encontrar isso que escrevi um ano atrás e guardei com carinho, nunca imaginando que empinaria na net. rsrsrsrs

LEMBRANÇAS
Há lembranças que são apenas lembranças. Outras são reviver
Há lembranças que queríamos não ter. Outras não queremos esquecer
Há lembranças que nos fazem sorrir. Outras nos fazem gargalhar
Há lembranças que surgem do nada. Outras não nos levam a nada
Há lembranças que animam. Outras nos abatem
Há lembranças que nos dão o desejo de voltar.Outras nos fazem fugir
Há lembranças do passado distante.Outras, do minuto que passou
Há lembranças que nos absolvem. Outras nos sentenciam
Há lembranças que nos unem. Outras nos repelem
Há lembranças que passam despercebidas. Para outras, soltamos fogos e brindamos
Há lembranças que são apenas boas.Outras nos fazem pessoas melhores
Há lembranças que nos maltratam. Outras nos tratam
Há lembranças que nos perseguem. Outras, nós perseguimos
Há lembranças fortes como furacão. Outras, como uma brisa leve
Há lembranças que nos fazem chorar.Outras nos podem matar
Há lembranças que nos envaidecem. Outras nos baixam a cabeça
Há lembranças tímidas que não mostram a cara, mas dominam a alma.
Há lembranças que são flash. Outras são longa metragens
Há lembranças que molham os olhos.Outras lavam e enxáguam a alma
Há lembranças ingênuas. Outras, atrevidas.
Há lembranças que guardamos a sete chaves. Outras, em alto e bom som proclamamos
Há lembranças que dariam uma valsa. Outras, um samba de pé
Há lembranças registradas em filmes. Outras, só na película da alma
Há lembranças que vêm e vão. Outras, que nunca virão. Outras ainda que deixaram de ser lembranças, pois nunca mais partiram.
Há lembranças felizes que reclamaram outras doses. Outras, não tão felizes, nos levam a over-dose.
Há lembranças que são gratuitas. Outras custam bem caro
Há lembranças que vêm pro palco. Outras se escondem na coxia
Há lembranças que carregam bandeira. Outras são agentes da cia
Há lembranças trazidas por coisas. Outras nos surgem do nada
Há lembranças que são um grito. Outras, um sussurro manso
Há lembranças que nos aprisionam. Outras não são red-bull, mas nos dão asas.
Há lembranças que nos fazem viver. Outras, precisamos esquecer para sobreviver.
Há lembranças que já foram segredos que hoje ninguém mais quer saber
Há lembranças que são um barulho pra alma. Outras, um doce acalanto.
Há lembranças que viajam na música. Outras, no silencio
Há lembranças que são turistas de fim de semana. Outras, agregadas que não pagam aluguel.
Há lembranças que nos levam a cantar. Outras dão um nó na garganta.
Há lembranças que nos levam para longe. Outras, só para dentro de nós.
Há lembranças que se fossem revividas, dariam um nó na vida.Outras precisam ser vividas pra desfazer o nó da vida.
Há lembranças que nos fazem tapar os ouvidos pra não escutar seus juízos.
Outras, diante das quais, suspirando prazerosamente, mirando-as com olhar faceiro simplesmente exclamamos: Ah, lembranças!!!!!!

Abraços.

(E)/Impinando pipas

Já nem lembro mais quanto tempo faz ; contudo, o que nunca poderei esquecer, é do prazer de (e)/impinar pipas.
Cuidadosamente confeccioná-las, usando talas de bambu bem fininhas ; colar aquele papel “arengueiro” bem colorido com goma de grude meio transparente que fazíamos ao fogão; correr até à máquina de costura da mãe, e lá apanhar retalhos para fazer um linda rabiola; amarrar o cabresto bem dimensionado; e, provido de um bom carretel de linha zero, rumar em disparada para aquele largo onde outros tantos, a ponto de terem um torcicolo, olham para as suas pipas que tremulam no céu...
Recentemente, depois de ler “ O Caçador de Pipas”, pude voltar no tempo e desejei ser como menino que não tem nenhuma preocupação. Se meu gosto pela escrita já era forte, intencificou-se ainda mais e, como voltar o tempo é terminantemente impossível, decidi atender aos incentivos de Geórgia no sentido de fazer, um blog que se assemelhasse ao prazer de (e)/impinar pipas. Algo inteiramente despretencioso, pelo simples prazer de brincar, de sorrir, de viver, de voar...
Foi assim, nesse clima de fantasia, nostalgia, e sobretudo alegria de viver do Menino que habita em mim que surgiu o http://impinandopipas.blogspot.com/

Naturalmente, como criança que depende do pai para fazer sua primeira pipa, não poderia conseguir jamais esta proeza sem ajuda. Recorri então a incetivadora eu, por estar do outro lado do mundo, e a ajuda veio em dose dupla: Geórgia e Isli; que me orientaram revelando uma paciência indescritível. Sei que dei um trabalho daqueles, levando Geórgia no seu limite a exclamar: “ô homem, não confunde mais as coisas”rsrsrsrsrsrsrs
Por isso, esta primeira pipa que e/impino hoje, leva seus nomes. Talvez, dado a altura não consigam enxergar; mas saibam, escrevi seus nomes nela.
Sei que muitos, mesmo no corre-corre que a vida lhes impingi, pararão; e, ainda que , por poucos instantes, voltarão seus olhos aos céus, se fazendo menino comigo. Outros, quem sabe, até se sentirão estimulados a fazer suas pipas e e/impiná-las também.
Como em todos os lugares e aspectos, o céu aqui é bem grande e cabe tantos quantos queiram gingar, fazendo joguetes, subir, subir bem alto... , mas também, quando bem desejarem, recolher sua pipa, colocá-la em baixo do braço e ir pra casa, na esperança de outro dia voltar.
Não precisaria nem falar, mas, nunca é demais lembrar que ninguém aqui deve usar “cerol”, Aliás, fica expressamente proibido o uso daquele vidro em pó, que os meninos malvados colam na linha, para ficar temperada e derrubar as outras pipas.
Quero mais é ver gente que, até se preciso for, ceda um pouco da sua linha, pelo simples prazer de ver o outro ir um pouco mais alto.
Algumas pipas certamente cairão. Mas, não faltarão os caçadores de pipas que, num gesto lindo as apanharão e, contrariando todas as expectativas, devolverão aos seus próprios donos, animando-os a recomeçar.
Nesta experiência estimulante, algumas pipas se alinharão à outras, exigindo muito altruísmo dos seus donos, até que se desembaracem e planem livremente.
Sei que nem todos os dias, o vento e o céu estão pra pipas; portanto, não terei aqui nenhum compromisso de dia certo para e/impiná-las. Espero pelo menos uma vez na semana não me furtar a este prazer.
Por falar nisso, já perceberam como o céu está lindo hoje? Vamos e/impinar pipas comigo????